Acreditar na vitória sempre

Há trinta e dois anos, no dia 11 de novembro de 1986, a cidade de Toulouse na França foi palco da partida mais famosa de Squash em toda a história. E estamos falando do dia em que Jahangir Khan perdeu sua invencibilidade de 555 vitórias consecutivas. Já falamos sobre o legado dessa família para o Squash. Mas o lema de Ross Norman, vencedor daquele dia, foi: acreditar na vitória sempre.

Os números obtidos em toda a carreira de Jahangir Khan o colocam na classes dos atletas que se pode chamar “de outro planeta”. Para Ross Norman, Jahangir Khan fez subir o nível do Squash em pelo menos 20 por cento, algo não usual. Roger Federer, por exemplo, fez algo similar no Tênnis, mas em menor proporção.

O tenista, mesmo sendo espetacular, nunca passou uma temporada toda sem perder. Já Jahangir Khan, cujo nome significa “conquistador”, não perdeu nenhuma partida entre a primavera de 1981 e o inverno de 1986. Durante esse período de cinco anos e meio, ele registrou a marca de 555 oponentes vencidos.

Por isso, quando finalmente foi derrotado na final aberto mundial (“World Open”), o resultado foi manchete no mundo todo. O triunfo de Norman concluiu uma narrativa clássica, que poderia ter sido oriundo de um roteiro de filme.

Mudança na história

Ele iniciou sua carreira de forma instável, tentando a sorte nos torneios amadores britânicos, ao mesmo tempo em que curtia esquiar e surfar por aí. Mesmo após se tornar profissional, ele ficava feliz simplesmente por ter um carro e uma casa. Afinal, a vida era confortável.

A virada para Norman veio depois de um acidente de paraquedas em 1983. Ele rompeu os ligamentos do joelho esquerdo. Disseram para ele que talvez nunca mais andasse sem mancar. Apesar disso, alguns meses depois, ele estava de volta às quadras. Sua carreira não somente foi salva, como revitalizada pela ameaça de se aposentar precocemente. Seu regime de treinamento antes superficial, se transformou em algo super-intenso. Dizem que até mais que o do próprio Jahangir Khan.

No dia 11 de novembro, em Toulouse, Norman se igualou ao seu oponente fisicamente e o superou por puro desejo. Ele assegurou a vitória por 3×1 (9-5, 9-7, 7-0, 9-1), representando seu único sucesso após 30 confrontos anteriores com Jahangir Khan.

Entendendo Jahangir Khan

Mas como Jahangir Khan reinou por tanto tempo? A natureza do jogo de Squash de muita troca de bola na época explica. Em um esporte capaz de produzir 80 ou mais jogadas em um único ponto, uma superioridade em ritmo, precisão e preparo físico vai ajudar no longo prazo. Partidas muito disputadas se tornam em verdadeiros testes de força de vontade. Por isso também a importância de uma estratégia mental.

Logo, motivação foi a chave nessa história. Se Norman se transformou após o acidente de paraquedas, Jahangir Khan se inspirou por uma experiência ainda mais traumática. Em 1979, seu irmão mais velho, Torsam Khan, sofreu um ataque cardíaco em quadra. Segundo Jahangir, no livro 555, isso o tornou mais forte e dedicado a missão, já que ele seu esforço não era apenas para si, mas também por alguém que ele amava.

Jahangir Khan pode até ter perdido naquele dia para Norman, mas ele continuo a jogar em um nível ainda mais elevado por pelo menos um ano ou dois. Ele se aposentou oficialmente em 1993 com um recorde de 10 títulos do British Open. Para o maior vencedor na história do Squash, a memória de seu irmão representou uma luz no seu caminho que nunca se apagou.

A lição de Ross Norman: acreditar na vitória sempre

E qual a estratégia de Ross Norman para superar Jahangir naquele dia? Acreditar na vitória sempre. O jogador admitiu adotar uma estratégia mental na tentativa de evitar perder sua grande oportunidade. Mesmo com o placar favorável em 7-1 e 8-1 no quarto game, ele fingiu para si mesmo ter um ponto a menos, para se concentrar no que deveria ser feito.

Quando questionado em que momento da partida ele sentiu que poderia alcançar o feito histórico, ele relatou que trabalhou um game por vez. Sua meta, ao entrar em quadra, era vencer pelo menos um game. Ele sabia que a probabilidade de ganhar não estava ao seu favor, mas em cada partida, ele buscava alcançar um nível de respeito que ele o satisfizesse.

Após perder o terceiro game, Norman voltou a quadra e se focou novamente. Ele estava determinado a fazer o melhor novamente. Foi nesse momento que ele sentiu que Jahangir estava se sentindo cansado. Ele percebeu que seu oponente já não era mais o mesmo, estava sofrendo. Mais importante, ele passou a acreditar na vitória.

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